quinta-feira, 22 de agosto de 2013
Maria
Maria seguia deixando migalhas no caminho. Esperava assim que João conseguisse seguí-la, encontrá-la e assim voltariam para casa. Mas as migalhas também poderiam trazer a Bruxa. Maria não tinha escolhas. A esperança do reencontro com seu irmão fazia com que engolisse o medo e continuasse deixando as migalhas. Olhou para baixo, aquele pequeno pedaço de pão em sua mão. Seria o alimento redentor para nutrir sua alma? Ou o bolor envenenado que consumiria suas entranhas? Não havia como saber. Não restava muito a Maria. Ali, sozinha na floresta sem saber o caminho de casa, ignorava o destino de João. Não sabia o que poderia haver por detrás das sombras das árvores, que nada deixavam ver. Poderia estar logo ali, a poucos metros, o aconchegante acalento que aqueceria seu coração entre aquelas árvores úmidas e frias, ou o terrível medo e pavor da cruel assassina. O herói ou o monstro; felicidade ou dor. Um só rastro de migalhas, mas duas possibilidades. O que estava guardado naquelas sombras, às quais Maria denunciava sua presença com pão? Não havia como saber. Mas não restava muito a Maria, não é? Uma vida sozinha era muito cruel, nem que o preço pela solidão fosse a ameaça iminente da Bruxa. Talvez o que ela temesse mesmo fosse a terceira opção; e ninguém seguiria sua trilha; e ela morreria ali, sozinha, esquecida e faminta. E então atirava mais um pedaço de pão.
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