quarta-feira, 3 de julho de 2013

Ao vento...

Todo escritor é humilde. Nem que guarde a humildade apenas para si mesmo. Às vezes posa de sabido, arrogante e culto. Faz reflexões, digressões, análises. Esbanja o vocabulário, critica e sonha. Mas, no íntimo, o que todo escritor sente é vontade de conversar. Pode ser com alguém real ou imaginado, ou conversar com o papel, ou com si mesmo. O importante é conversar com alguém que entenda. Ou ao menos esperar que alguém entenda. Esperar que, no papel, bonitas e enfileiradas, tiradas da confusão de dentro, as palavras façam sentido para alguém. Nem que seja para si mesmo. Nem que se espere algum entendido, alguém que lhe conte de volta o entendimento, e possa então, o escritor, entender aquelas palavras que dele escorreram como lágrimas manchando o papel. E que esse alguém venha lhe fazer companhia, ainda que na forma de mais palavras, e lhe traga uma resposta calorosa para o humilde pedido de socorro que lança ao vento. No fundo, todo escritor valoriza seu leitor, e, por mais arrogante que pareça ser, usa seu tempo e tem cuidado produzindo palavras na certeza de que alguém merece o esforço. Todo escritor espera que o vento leve ao longe sua mensagem, que ela seja agradável a alguém, que talvez siga o aroma de volta. Todo escritor lança pistas no ar para ser encontrado e posto a salvo. Nem que seja salvar-se de si. No fim, escrever é pedir, humildemente, por companhia. Nem que seja...

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