segunda-feira, 2 de junho de 2025
Engrenagem
Mais de 10 anos e uma engrenagem travada. O motor funcionava perfeitamente, cada peça em seu lugar, mas um turbilhão de coisas que não deveriam estar ali invadem e emperram as engrenagens. Como acreditar que o correto funcionamento é esse caos? É a roda dentada atravancada, enferrujada, suja, cheia de coisas que não deveriam estar ali? E ainda assim, é o correto. A perfeição que é irreal. A vida é o caos. Com tantas cores e borrados, que nenhuma palavra pode descrever. E ainda assim é o que há. Não somos seres que contemplamos a realidade, nossas palavras não descrevem o mundo. Somos apenas. Existimos. E contemplamos o caos tentando encontrar uma ilusória ordem que, quando parece existir, é fugaz e só deixa algumas tênues marcas. É o que há. Não há espaço para lamentação, embora o desejo do lamento persista. Mas não há espaço. Não há lugar para questionar o caos, mas para se sentir em casa nele. Da ordem só fica a lembrança, daquelas engrenagens que pareciam girar perfeitamente. Da recompensa à punição que parecia mesmo ser recompensa, não uma outra punição ainda mais pesada e dura. Que perdura até hoje. 10 anos depois. Como um tronco a mais emperrando a engrenagem dessa máquina. Que já pareceu ser tão perfeita.
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