Não sei como definir, mas uma epifania me toma. Por vezes cheguei a momentos "definitivos" em minha vida. Mas todos passaram. Vivi várias vidas dentro de uma única e curta vida até agora. Vários "eus". Inúmeras vezes cheguei à conclusão de que "esse é quem eu realmente sou" ou "quero ser". Todos contraditórios entre si, compartilhavam apenas o nome e a fluidez inerente. Não sei se isso ocorre com todo mundo, mas apenas agora me dou conta disso. Talvez seja algo banal, mas a banalidade é muito mais fruto das palavras que não conseguem reproduzir todo o prisma envolvido. É muito extasiante olhar para tantos locais definitivos e eternos que passara.
O mais significativo deles, talvez, tenha sido minha estadia em Juiz de Fora. Era disciplinado, estudioso, bondoso, religioso, otimista em relação à vida. Frequentava assiduamente a academia, cuidava da alimentação, estudava com afinco, fazia planos austeros. Queria terminar a faculdade de psicologia e fazer o mestrado para o qual havia sido aprovado. Mas também continuar fazendo medicina. Queria ser professor, pesquisador, psicólogo, psiquiatra. E tudo andava nessa direção. Há anos não saía à noite, não bebia. Ou havia feito apenas poucas vezes durante as férias. Não mais me preocupava em ser o "pegador" da noite. Na verdade isso era parte de outro "eu" que há muito havia passado. Enfim, minha vida era perfeita e estava decidido a trilhar esse caminho pela eternidade.
Mas esse tempo passou. E foi difícil entender que havia passado. A transição foi muito dolorosa. Todas as minhas crenças foram colocadas à prova, e em um dado momento me vi sendo obrigado a passar por todo o oposto daquilo que eu havia sido e de que tanto me orgulhava. Pense nisso, o contrário de "disciplinado, estudioso, bondoso, religioso, otimista em relação à vida". Não é muito legal, não é? Em vez de orgulho, passei a ter vergonha. E essas coisas foram levadas ao seu extremo. Não fazia sentido. Afinal, eu me identificava com coisas positivas. Não podia admitir ser uma pessoa ruim. E realmente fui. Sem rodeios, sem justificativas ou desculpas. Não quero achar nada que reduza a dimensão do verdadeiro culpado, que realmente fui eu.
Porém, isso também passou, felizmente. Na verdade foi um período muito louco. Agora é vez de outro período. Mais uma vez gostaria que fosse eterno, mas preciso reconhecer que não será. Tudo na minha vida é um estado eterno de transição. E em geral são transições drásticas.
Pelo menos aprendi a desconfiar sempre do todo. Tudo são apenas partes. Agora vivo mais uma, entre infinitas que se sucederão. Quem sabe em uma delas eu esqueça disso e volte a acreditar que algo pode ser eterno. Afinal, tudo pode acontecer. Só não pode parar.
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