domingo, 22 de setembro de 2013

Adeus

E quem um dia diria
que, na verdade, eu sabia
e ver, conseguia
muito mais que você?

Duvidei e desconfiei
das minhas verdades
que nenhuma vantagem
me pareciam ter.

Mas a sua sensatez
mostrou-se equivocada.
Portas só existem
para serem fechadas.


(...) E quem diria que na verdade eu sabia mais que você? Eu mesmo não confiava muito nas minhas verdades, tão pouco proveitosas elas pareciam a mim. Mas no fim das coisas, toda a sua sensatez se provou equivocada. Portas existem para serem fechadas.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Fluxo

Não sei como definir, mas uma epifania me toma. Por vezes cheguei a momentos "definitivos" em minha vida. Mas todos passaram. Vivi várias vidas dentro de uma única e curta vida até agora. Vários "eus". Inúmeras vezes cheguei à conclusão de que "esse é quem eu realmente sou" ou "quero ser". Todos contraditórios entre si, compartilhavam apenas o nome e a fluidez inerente. Não sei se isso ocorre com todo mundo, mas apenas agora me dou conta disso. Talvez seja algo banal, mas a banalidade é muito mais fruto das palavras que não conseguem reproduzir todo o prisma envolvido. É muito extasiante olhar para tantos locais definitivos e eternos que passara.

O mais significativo deles, talvez, tenha sido minha estadia em Juiz de Fora. Era disciplinado, estudioso, bondoso, religioso, otimista em relação à vida. Frequentava assiduamente a academia, cuidava da alimentação, estudava com afinco, fazia planos austeros. Queria terminar a faculdade de psicologia e fazer o mestrado para o qual havia sido aprovado. Mas também continuar fazendo medicina. Queria ser professor, pesquisador, psicólogo, psiquiatra. E tudo andava nessa direção. Há anos não saía à noite, não bebia. Ou havia feito apenas poucas vezes durante as férias. Não mais me preocupava em ser o "pegador" da noite. Na verdade isso era parte de outro "eu" que há muito havia passado. Enfim, minha vida era perfeita e estava decidido a trilhar esse caminho pela eternidade.

Mas esse tempo passou. E foi difícil entender que havia passado. A transição foi muito dolorosa. Todas as minhas crenças foram colocadas à prova, e em um dado momento me vi sendo obrigado a passar por todo o oposto daquilo que eu havia sido e de que tanto me orgulhava. Pense nisso, o contrário de "disciplinado, estudioso, bondoso, religioso, otimista em relação à vida". Não é muito legal, não é? Em vez de orgulho, passei a ter vergonha. E essas coisas foram levadas ao seu extremo. Não fazia sentido. Afinal, eu me identificava com coisas positivas. Não podia admitir ser uma pessoa ruim. E realmente fui. Sem rodeios, sem justificativas ou desculpas. Não quero achar nada que reduza a dimensão do verdadeiro culpado, que realmente fui eu.

Porém, isso também passou, felizmente. Na verdade foi um período muito louco. Agora  é vez de outro período. Mais uma vez gostaria que fosse eterno, mas preciso reconhecer que não será. Tudo na minha vida é um estado eterno de transição. E em geral são transições drásticas.

Pelo menos aprendi a desconfiar sempre do todo. Tudo são apenas partes. Agora vivo mais uma, entre infinitas que se sucederão. Quem sabe em uma delas eu esqueça disso e volte a acreditar que algo pode ser eterno. Afinal, tudo pode acontecer. Só não pode parar.

domingo, 1 de setembro de 2013

Saudade, palavra triste...

Para acompanhar a leitura, sugiro essa música de fundo: http://www.youtube.com/watch?v=5WOcU7J9F3E

Não sei o que é pior sobre a saudade. Talvez seja a simples desnecessidade. E assim a saudade se perpetua, como algo que não precisa ser combatido, que devemos deixar simplesmente ali, pulsando, invisível para todo o mundo. A saudade não mata, daí não precisamos matá-la. É cruel e dissimulada, covarde que se esconde o tempo todo, até que um dia aparece e cutuca. Depois some de novo. E fica assim, nessa guerrilha perene. Não dá para fugir dela, pois aonde quer que se vá, lá está ela aguardando.

Outro dia você estava ali, sentada à mesa fazendo suas coisas. Quando eu chegava, você me recebia com um sorriso. Várias vezes você veio me lembrar de algo que havia esquecido, implicava com o meu jeito de fazer as coisas. Estava ali, de pé, usando aquele seu short azul de todo dia, fazia comida, testava uma receita. Ou então estava andando por essas ruas, e uma hora a gente simplesmente se esbarrava...

Mas não sei se esse ainda é o pior da saudade. O que me incomoda mesmo é ver um mundo de possibilidades se desfazendo. Tantas conversas que poderíamos ter, tantos assuntos sobre os quais queria saber sua opinião, tantas coisas que gostaria de lhe mostrar. Porém, acima de tudo, dói não poder ver seu sorriso. É dele que sinto mais falta. Seu sorriso era tão gostoso, tão amável. Era o contraste perfeito do rosto de menina no corpo da grande mulher que você é.

E de repente, aparece essa tal da saudade para me lembrar o quanto eu gostava, mas também para me mostrar o quanto ele se vai desmanchando. Já não lembro mais como era seu sorriso. Não consigo imaginar todos os seus detalhes, toda a sua complexidade. Resta apenas uma sombra, que a cada dia fica mais disforme, até que um dia vá se perder completamente.

A saudade não vai acabar. Mas ela vai deixando de ser algo e se transformando em abstração pura. Aos poucos, não me resta algo de que ter saudade. Vai virando saudade pura, saudade de nada. Só saudade. Como se deixasse de ser saudade de você e passasse a ser minha. Não tenho mais saudade, mas sou alguém que sente saudade. Que sente um vazio inexplicável, onde nada mais falta, nada há o que faltar. E você se torna apenas uma sombra amorfa que me persegue.

Já não me incomoda a sua ausência. Ela não me mata, e assim eu ela sobrevivemos. Já somos cúmplices, ela minha eterna companheira, minha terrível algoz. Mas o que dói é saber que tudo está se perdendo, se desmanchando no ar. E pelo menos as minhas lembranças gostaria de reter comigo. Entendo que não possamos ser um do outro na vida real, mas ao menos nos sonhos, vez ou outra, poderíamos ser felizes. E é a morte dos sonhos a pior parte da saudade. Ela me segue, mas vai matando você. Bem aos poucos. Pois enquanto a saudade se alimenta da ausência, esta só aumenta o vazio que você deixou.