quarta-feira, 31 de outubro de 2012

SAINTS OF WAR - CAPÍTULO 1 - A CASA DE ÁRIES

Diante da figura inflexível do Cavaleiro de Ouro de Áries, Kratos esboçou um sorriso irônico. Seus olhos continham o ódio acumulado por cada homem que recebeu a morte de formas horrendas daquelas mãos. O sangue dos guerreiros que matou durante anos banhou suas espadas, e o dos guerreiros do santuário ainda respingava quente das afiadas lâminas. A voz grave e imponente de Kratos ecoou:

- Para o meu bem? Eu já matei Deuses, cavaleiro. Veja só o destino dos guerreiros que tentaram me impedir. Pense melhor antes de ficar no meu caminho.

Atrás de Kratos, um mar de sangue cobria as ruas do santuário que levavam às doze casas. O Cavaleiro Mu de Áries, porém, sequer levantou os olhos. Sua serenidade permanecia inabalável.

- Você se vangloria de ter matado Deuses, mas não sabe que há milênios vários deles tentaram chegar ao topo dessa escadaria... e não sei de nenhum que tenha conseguido. Você travou combates com os Deuses durante sua vida, enquanto nós sempre estivemos preparados para derrotar todos eles por toda a história. Não, espartano... nem a luta mais sangrenta, a guerra mais impiedosa, nem a fúria dos deuses, nada se compara ao desafio presente em cada degrau dessa escadaria...

- Veremos... - foi o que Kratos disse e, mal sua boca se fechou, ele se atirou sobre a escadaria, em direção ao Cavaleiro Mu. Suas espadas firmemente presas às mãos descolaram-se furiosamente em direção ao cavaleiro, mas pouco antes de lhe tocar o corpo foram detidas no ar e Kratos sentiu como se todo o seu corpo fosse atirado contra uma rocha maciça indestrutível. Com o impacto, foi arremessado para trás, de volta às escadas. O cavaleiro continuava parado no topo das escadas, impedindo o acesso à entrada da primeira casa. Nada parecia explicar o fato do golpe do espartano não haver funcionado. Mas isso não espantou o guerreiro espartano. Durante sua vida várias vezes se deparou com obstáculos que pareciam indestrutíveis, porém que pouco depois mostravam a fragilidade.

Nada há que a força bruta não resolva! E voltou a desferir golpes contra o Cavaleiro de Atena, dessa vez usando uma sequência rápida de golpes de espada. Nesse momento percebeu que uma parede quase invisível tremulava à frente do cavaleiro dourado toda vez que um golpe se aproximava de atingi-lo. Kratos continuava obstinadamente a golpear a barreira invisível, mas parecia que ela jamais cederia. Mu permanecia tranquilo, sem proferir mais nenhuma palavra. Percebendo que não obteria êxito daquela forma, Kratos se afastou poucos passos e disse:

- Vocês são os cavaleiros de Atena, mas foi a mim que ela deu a missão de recuperar a caixa de pandora e derrotar Zeus. E mais que isso... os poderes dela e dos demais Deuses ainda estão comigo!

E Kratos soltou um grito, enquanto disparava uma poderosa tempestade elétrica, habilidade que recebeu de Poseidon anos antes. O chão se quebrou, as colunas da casa de Áries começaram a se partir, e finalmente a resistência da parede de cristal criada por Mu começou a passar a sofrer um teste à sua altura. O Cavaleiro de Atena se convenceu então de que não bastaria conter aquele guerreiro, ele não desistiria, era o momento de derrotá-lo. Em uma fração de segundo a parede de cristal foi desfeita e a postura defensiva de Mu se converteu num grito efusivo:

- Starlight extinction!

Uma luz ofuscante cercou Kratos, que ainda usava seu golpe. Rapidamente uma explosão ocorreu e Kratos foi atirado para longe violentamente. Atingiu o chão violentamente. Suas espadas foram arremessadas para longe, permanecendo presas a ele apenas pela corrente que as mantinha sempre em suas mãos. Kratos se levantou, sentiu sangue escorrendo pelo seu corpo... seu sangue. Não se lembrava da última vez quando um simples mortal o havia conseguido fazer sangrar com apenas um golpe.

Kratos parou e olhou fixamente para Mu, agora distante, ainda no topo da escadaria que leva à entrada da casa de Áries. Parou e ali ficou por um tempo. Não por medo, não por hesitar ou duvidar de sua capacidade de passar por ali, mas simplesmente por compreender então que, como os Deuses, aquele homem não cederia a golpes ao acaso. Seria preciso mais que força para passar por ali. E ele passaria!

Kratos, então, considerou por um momento quais seriam as melhores formas para atacar aquele irritante adversário. Havendo chegado a uma conclusão, partiu para ação. Rapidamente saltou em direção ao Cavaleiro de Áries, presumindo que seu golpe seria detido pela parede de cristal. Com um das mãos, então, desferiu um golpe de espada contra o seu oponente, enquanto com a outra mão lançou a espada em direção à uma das pilastras que ficavam ao redor. A espada, presa à uma corrente, se enroscou na pilastra, que foi puxada por Kratos, enquanto com a outra mão prosseguia golpeando a muralha produzida pelo Cavaleiro de Atena. Dessa forma, desferiu um ataque lateral contra seu adversário, lançando a pesada pilastra contra ele, em um ângulo que inviabilizava a utilização da parede de cristal. Além disso, com o deslocamento abrupto do pilar de sustentação, parte do teto da casa de áries se desprendeu, caindo sobre Mu. O Cavaleiro de Ouro conseguiu rapidamente proteger-se da pilastra, partindo-a com um soco, mantendo ainda a parede de cristal que o protegia dos ataques frontais, mas precisou alterar sua postura para evitar ser atingido pelo desabamento do teto. Isso enfraqueceu sua capacidade de manter a proteção de cristal, que continuava sujeita aos poderosos e rápidos golpes de Kratos.

O espartano, por sua vez, logo após realizar o ataque à pilastra da casa de Mu, pegou novamente a espada usada e com ela passou a golpear a muralha de cristal, liberando a outra mão, que antes desferia os ataques frontais, para que ela também conseguisse deslocar uma pilastra da casa de áries, agora do lado oposto ao da primeira. Toda essa sequência de golpes foi feita com extrema rapidez e força, características marcantes do guerreiro espartano.

Tão logo Mu se desvencilho da primeira pilastra, precisou desfazer sua postura para se proteger do teto e foi atingido pela segunda pilastra lançada por Kratos, perdendo então completamente a capacidade de manter a parede de cristal. Com o impacto recebido pela grande massa rígida da segunda pilastra, Mu foi atirado para o lado, ficando desprotegido contra os ataques do fantasma de Esparta. Kratos se atirou sobre o corpo de Mu, golpeando-o enquanto ele ainda estava no ar. O Cavaleiro de Atena foi lançado, então, fortemente contra o chão, sem tempo de reagir contra os golpes de Kratos, que seguia lhe atingindo seguidamente com grande velocidade. 

Caídos no chão, Mu por baixo e Kratos por cima a lhe golpear, seria uma questão de pouco tempo até que Mu sucumbisse aos golpes de seu oponente. Entretanto, não é tão simples derrotar os Cavaleiros de Atena. Ferido pelos poderosos golpes de Kratos, Mu conseguiu usar os braços para evitar que as lâminas das espadas do espartano lhe causassem danos fatais. A proximidade entre os dois combatentes impedia que o Cavaleiro do Santuário adotasse as posições necessárias para desferir golpes capazes de lhe tirar da situação. Sua maior preocupação era evitar que as lâminas de Kratos tocassem em locais vitais de seu corpo. Percebendo que a armadura de ouro não cederia aos golpes de suas espadas, Kratos tentava atingir diretamente o rosto de Mu. Não conseguia ter espaço para usar técnicas de combate que não dependessem dos golpes físicos, pois a proximidade entre ambos inviabilizava os movimentos necessários. Contudo, Kratos sabia que conseguiria superar Mu na força física e que o cavaleiro também não conseguiria desferir seus golpes, nem usar sua parede de cristal, enquanto eles estivessem naquela posição. Seria questão de tempo até Mu ceder aos golpes e ser derrotado!

Então Kratos dirigiu suas duas espadas diretamente ao rosto de Mu, sendo bloqueado pelos punhos do Cavaleiro de Atena, que seguraram suas mãos e impediram que as suas espadas lhe tocassem o rosto. Ficaram ali, naquela posição, exercendo uma força magnífica, cujo equilíbrio resultava na imobilidade de ambos os lutadores. Kratos tentava aplicar cada vez mais força, certo de que logo seu adversário cederia e teria as espadas cravadas bem no meio do rosto. Porém Mu já esperava por isso. Custava-lhe muita força resistir à pressão exercida por Kratos, mas quando ela se tornou suficientemente alta, Mu empurrou rapidamente com uma das pernas o joelho de Kratos, deslocando o equilíbrio de seu adversário, enquanto ao mesmo tempo curvou a cabeça para o lado, tirando-a da direção das espadas, e levantou violentamente o abdome, sobre o qual Kratos se localizava, jogando-o para o lado que havia ficado desequilibrado. Tudo isso se processou rapidamente, com as espadas do espartano fincando-se no chão, enquanto seu corpo era atirado de lado por Mu, que agora ficava por cima. Aproveitando o movimento, o Cavaleiro de Atena salta ao alto, ganhando espaço para desferir um golpe:

- Stardust Revolution!!!

A casa de áries se iluminou. Durante um momento todas as imagens se ofuscaram ante o brilho do golpe de Mu. Uma grande massa de poeira se levantou e apenas lentamente ela foi baixando, deixando entrever aos poucos uma enorme cratera formada no piso da casa de áries devido ao golpe. Mu parecia descansar. Embora todos os cavaleiros passem por rigorosos treinamentos físicos, essa não é a especialidade do Cavaleiro de Áries e o grande vigor e força do fantasma de Esparta foi um duro teste imposto a ele. A poeira continuava a se dissipar. Em meio a ela, uma silhueta começava a se formar, ao longe. Mu olhou espantado em direção a ela e quando ela finalmente tornou-se totalmente visível, não pôde deixar de pensar:

- Não é possível que ele consiga estar de pé após ter recebido meu golpe!

Kratos estava parado a vários metros de Mu. A parte de seu corpo inferior à cintura estava seriamente ferida. Aparentemente, quando Mu desferiu seu golpe, a grande agilidade do guerreiro espartano serviu para que ele desviasse a parte superior do corpo do principal impacto do golpe, mas a parte inferior foi atingida em cheio. Mesmo assim, isso não foi suficiente para derrotá-lo e mesmo com grandes ferimentos na parte inferior do abdome e nas pernas, Kratos permanecia de pé.

- Não pense que será tão fácil me vencer, cavaleiro! - Disse Kratos.

Entretanto, com o grande espaço que agora havia entre eles, novamente a vantagem era de Mu, que poderia voltar a usar a parede de cristal, e certamente não se deixaria surpreender novamente pela primeira estratégia usada por Kratos. Novamente ambos os lutadores ficaram parados por algum tempo, considerando suas estratégias de luta.

Essa aparente tranquilidade é rapidamente abalada quando Kratos parte em direção a Mu, enquanto este continua parado em sua postura defensiva. Contudo, prevendo o uso da parede de cristal, o espartano não ataca diretamente Mu. Em vez disso, ele atira as suas espadas para os lados e golpeia o chão com os punhos nus, usando uma técnica aprendida com o Titã Atlas, capaz de causar um devastador terremoto. Com isso, o ataque sobre Mu vem de baixo, e não da parte de cima e dos lados como anteriormente. Porém, diferentemente do esperado, Mu não usa a parede de cristal, também presumindo que o guerreiro de Esparta estaria precavido contra essa técnica. Ao contrário, o Cavaleiro do Santuário desfaz sua postura defensiva e ataca Kratos, usando novamente seu golpe "Revolução estelar". Kratos é golpeado, mas Mu também. Após acertar seu adversário, o Cavaleiro de Atena tenta minimizar o impacto recebido pelo terremoto, que causou uma protusão do piso da casa de áries, atingindo-o de baixo para cima. Para isso, Mu pula, mas desde o início isso havia sido planejado por Kratos. As suas espadas, que lançou no início do golpe, atingem todas as pilastras da casa de áries em sequência e, somado ao dano causado pelo terremoto, faz com que a construção onde estão desmorone. Mu estava pulando para fugir do piso da casa que levantava em sua direção e não pôde se defender do teto que desabada sobre sua cabeça. O cavaleiro é lançado ao chão, de encontro ao piso do qual tentava escapar. Depois de haver atingido Mu, o chão que havia se levantado com o tremor cede aos deslizamentos de terra e retorna novamente para baixo, levando junto de si os destroços do teto que caíram sobre Mu e o próprio cavaleiro para baixo da terra, onde é soterrado dentro de uma grande fenda que se abre no solo e é aterrada com todo a rocha desprendida da casa desabada.

Kratos, que não esperava receber um ataque direto do Mu, também é atingido pelo desabamento. Contudo, não é tragado pela fenda no solo, conseguindo abrir espaço entre os escombros para sair debaixo deles. Seu corpo estava ferido pelos golpes de Mu e pelo próprio desabamento que acabara de causar, mas não era o melhor momento para se preocupar com isso. Havia um obstáculo a menos entre Kratos e sua vingança. Era a hora de seguir em direção à casa de touro.