I only have been busy.
Blog do Diego Gonçalves Nogueira
quinta-feira, 8 de janeiro de 2015
domingo, 4 de janeiro de 2015
Samsara
[...] "Não há mérito em amar aqueles que nos são queridos. Naturalmente amamos aqueles que nos agradam, que nos confortam, que nos amam de volta. O difícil é amar os inimigos, amar aqueles que nos machucam, que nos provocam, que retribuem nosso amor com ódio."
E, logo terminaram as palavras do mestre, viu-se cercado de pessoas que o atacavam, cheias de ódio. Com paus e pedras, feriam-lhe o corpo. Com ofensas e xingamentos, feriam-lhe a alma.
Lembrando-se das palavras do mestre, fechou os olhos e desviou-se de toda a dor e sofrimento. Concentrou-se em amar aqueles homens, a lhes perdoar as ofensas e os males. Não foi tarefa fácil, posto que a urgência da dor física lhe trazia de volta ao ódio, assim como as palavras ignominiosas lhe roubavam a temperança. Permaneceu assim um tempo, até consegui subtrair-se de todo pensamento, e assim toda mágoa sobre sua carne e espírito esfumaçaram. Sobrou apenas o amor.
Viu-se, subitamente, de volta à presença do mestre, que lhe disse: "Não há mérito em amar quando se sabe que a dor é passageira. Fácil é suportar um grave suplício por poucos instantes quando se sabe que logo a recompensa vem."
Então, sem perda de tempo, foi levado novamente ao meio do mundo. Espinhos rasgavam sua pele, pessoas o agrediam, traiam, ofendiam. Sentia fome e sede. Por vezes, quando a fome apertava, quando a doença lhe castigava, quando os homens o amaldiçoavam, desviava das sendas do amor. Sua memória às vezes falhava. Sua missão, por vezes, parecia não valer a pesada carga. Chegou a odiar, a retribuir o mal, a chorar e amaldiçoar seus infortúnios. Os meses passaram. Os anos. Seu estômago doía, as forças minoravam, sentia saudades dos seus, sofria com frio, sede, tinha medo ao encontrar outros homens, apreensivo com o amanhã. Finalmente, sentado ao topo de uma montanha, já com os cabelos grisalhos e a vista cansada, lembrou-se de sua tarefa. Observou o pôr-do-Sol e apreciou cada espinho que a vida, nesses longos anos, lhe cravara. Lembrou do amor e lembrou-se de amar. E lembrou das palavras do mestre. Fechou os olhos e conseguiu se afastar de todo o mal. Sobrou só o amor.
Quando abriu os olhos novamente, estava o mestre à sua frente: "É fácil amar quando se está em paz consigo mesmo. O difícil é quando precisamos nos perdoar de crimes imperdoáveis. O difícil é amar a si mesmo quando por si nutre-se desprezo, quando sobre seus ombros pesa a derrota e a culpa."
Então o homem acordou em um campo de batalha. Suas mãos, sujas de sangue, seguravam uma espada pesada. Ao redor, corpos de homens, mulheres e crianças. Soltou a arma em desespero, enquanto homens chegaram acusando-o. Depois, viu-se em outro lugar, um escritório, recebendo dinheiro indevido. Viu passarem por si pessoas de todos os tipos, pobres, famintos, doentes, todos deixados ao relento, na miséria, vítimas de sua vilania e egoísmo. Piscou os olhos novamente e acordou colérico, vendo sua esposa com outro homem e suas mãos golpeando os dois até a morte. A filha pequena no canto da porta observando tudo.
Percebeu, então, seu egoísmo. Tantas pessoas, em tantas vidas e encarnações sofrendo por suas mãos. Por seus desejos egoístas e mesquinhos. Aquele era mesmo ele. Havia matado numa vida, roubado noutra e torturado mais à frente. Quantas outras coisas não teria feito e ainda viria a fazer? E agora, era um outro alguém que aquele que um dia fora? Seu desejo por amar era diferente do desejo de comer, de vencer, de enriquecer, de ser amado? Haveria agora outra motivação para sua busca que não o desejo de alcançar a elevação? Não seria um desejo esse como qualquer outro, podendo levar a flagelos assim como outros desejos já causaram? E não haveria depois outros desejos, outros males, outros sofrimentos, outros crimes para praticar?
Sob o olhar atento da criança, com as mãos sujas de sangue, vendo os corpos atirados na cama, lavou seus olhos com lágrimas, enquanto caminhava para a janela do décimo andar. Queria apenas morrer e interromper todo o mal que sua existência causara ao mundo. Não merecia viver, não merecia a salvação, não merecia os ensinamentos do mestre.
Foi então que, uma vez mais, a voz do mestre ecoou em sua mente: "Só há mérito em se perdoar o que é imperdoável, seja a si ou aos outros."
Então percebeu que precisava daqueles crimes. Aceitou sua maldade, aceitou seu passado. Era a imundície de sua alma que tornava valiosa a pureza. O mundo é cruel. A fome fustiga um animal a matar o outro, as emoções levam os homens a se odiar, a vaidade, os ciúmes, as amizades, as dores, a ignorância, a pobreza de espírito. Aceitar que se erra é o primeiro acerto.
Então fechou os olhos e aceitou ser uma pessoa má, seus crimes, o sofrimento. Aceitou que fazem parte de seu caminho para a iluminação. Aceitou que é movido por desejos. Que seu desejo por riqueza, amor, conhecimento fazem parte de si, assim como seu desejo por paz, pureza e felicidade. Aceitou-se.
Quando abriu os olhos, estava novamente diante do mestre: "Resta apenas uma tarefa a você, antes de atingir a iluminação. É fácil acertar quando se tem conhecimento da tarefa: que se deve amar sem ser amado, esperar com paciência, perdoar o imperdoável. O difícil é descobrir isso por conta própria. Então, acordará sem se lembrar de nada, num mundo cheio de dor, sofrimento, mágoa, ódio e culpa. Quando entender por si só, então nos veremos novamente."
Abriu os olhos. Era apenas um bebê, uma família o cercando, um mundo à sua volta. Espalhados por todos os lados, vários iguais a si. Não se lembram de muitas coisas, apenas dos empregos que lhe põem comida à mesa, dos amigos que aliviam o sofrimento, das vaidades que lhes castigam a alma, das culpas, essas que nunca se esquecem. E seguem comendo, envelhecendo e se culpando, sem saber muito bem onde é para chegar.
Não tem problema. O mestre sabe esperar.
sábado, 27 de dezembro de 2014
Certo tempo certo
Um certo, nem longo, nem curto, mas apenas certo tempo já se passou. O tempo certo, talvez se dirá, ou talvez apenas um tempo qualquer, que por hora se propõe como certo, posto que a hora agora é a certa, mas que já pode ser errada amanhã. O certo é que, agora, o tempo que passou é tempo certo, que fustiga os tempos passados e lhes amansa as feridas. Será, porventura, doravante o tempo errado, o pouco tempo, o demasiado tempo, o perdido tempo. Mas é apenas certo, agora, e isso já me basta.
Um certo tempo passou e, no momento, é o tempo justo para me fazer te olhar como a uma pintura emoldurada, pendurada em algum cômodo esquecido. Uma pintura que se pode apreciar, analisar, mas que jamais transmitirá a verdade da paisagem que se capturou em tela. Uma pintura não tem muito o que nos servir após certo tempo. São cores e texturas dispostas numa tela, estáticas, imóveis e frias. Quando o tempo ainda não é o certo, ou já se passou do tempo certo, a pintura pode parecer vívida, animada pelas memórias, que acendem os cheiros, os sons, as emoções, os abraços e aquele roçar insistente de sua perna na minha. A pintura não passa de um portal para o caleidoscópio de sensações da memória. Fica-se sem fôlego, o coração dispara, as imagens tomam forma e as vemos por aí a andar, dançar, sorrir e beijar.
Mas não no tempo certo. Perde-se então o consórcio de que se servira a pintura para ganhar vida. Agora não passa de tinta em uma tela. Não enseja emoções, não faz soar os tímpanos, não apetece a alma. São apenas cores em uma tela, que sabemos reconhecer ao observar. Reconhecemos que um dia existiu, que tais formas e tais cores desterradas correspondem a algo, a algum momento vivido. Porém um que nada mais significa. É como reconhecer o rosto de alguma pessoa com quem, apesar do costume de ver, não se tem qualquer contato: reconhecemos, sabemos que encontramos, dia após dia, ali na fila do pão, na loja de sapatos, mas não nos significa nada.
E eis que se tem chegado esse tempo. É apenas um e certo tempo. Aquele espremido entre o tempo curto, cuja pequenez não é suficiente para arrefecer as sensações há pouco aviltadas, e o tempo longo, cuja saudade faz com que se rememorem os tempos já tão longínquos. Pois é que o tempo curto ainda arde como brasa recém marcada, enquanto o tempo longo volta por já não lhe supormos qualquer perigo. Mas o tempo certo, esse é o tempo que oblitera. É tempo que aniquila. É o tempo que despreza toda a moldura que encampa o quadro maior de nossas vidas e só nos leva a pensar: "sim, isto existiu, mas entre ele e mim já não existe nada" (Na verdade, paramos no sim, não há crédito ao certo tempo, até que se esvaneça e torne o tempo errado, que já desponta no horizonte enquanto encerro a pequenez desses grandes tempos. Com amor, eternamente seu... ninguém).
Um certo tempo passou e, no momento, é o tempo justo para me fazer te olhar como a uma pintura emoldurada, pendurada em algum cômodo esquecido. Uma pintura que se pode apreciar, analisar, mas que jamais transmitirá a verdade da paisagem que se capturou em tela. Uma pintura não tem muito o que nos servir após certo tempo. São cores e texturas dispostas numa tela, estáticas, imóveis e frias. Quando o tempo ainda não é o certo, ou já se passou do tempo certo, a pintura pode parecer vívida, animada pelas memórias, que acendem os cheiros, os sons, as emoções, os abraços e aquele roçar insistente de sua perna na minha. A pintura não passa de um portal para o caleidoscópio de sensações da memória. Fica-se sem fôlego, o coração dispara, as imagens tomam forma e as vemos por aí a andar, dançar, sorrir e beijar.
Mas não no tempo certo. Perde-se então o consórcio de que se servira a pintura para ganhar vida. Agora não passa de tinta em uma tela. Não enseja emoções, não faz soar os tímpanos, não apetece a alma. São apenas cores em uma tela, que sabemos reconhecer ao observar. Reconhecemos que um dia existiu, que tais formas e tais cores desterradas correspondem a algo, a algum momento vivido. Porém um que nada mais significa. É como reconhecer o rosto de alguma pessoa com quem, apesar do costume de ver, não se tem qualquer contato: reconhecemos, sabemos que encontramos, dia após dia, ali na fila do pão, na loja de sapatos, mas não nos significa nada.
E eis que se tem chegado esse tempo. É apenas um e certo tempo. Aquele espremido entre o tempo curto, cuja pequenez não é suficiente para arrefecer as sensações há pouco aviltadas, e o tempo longo, cuja saudade faz com que se rememorem os tempos já tão longínquos. Pois é que o tempo curto ainda arde como brasa recém marcada, enquanto o tempo longo volta por já não lhe supormos qualquer perigo. Mas o tempo certo, esse é o tempo que oblitera. É tempo que aniquila. É o tempo que despreza toda a moldura que encampa o quadro maior de nossas vidas e só nos leva a pensar: "sim, isto existiu, mas entre ele e mim já não existe nada" (Na verdade, paramos no sim, não há crédito ao certo tempo, até que se esvaneça e torne o tempo errado, que já desponta no horizonte enquanto encerro a pequenez desses grandes tempos. Com amor, eternamente seu... ninguém).
sábado, 29 de novembro de 2014
sexta-feira, 28 de novembro de 2014
sábado, 21 de junho de 2014
Consciência
Nós, e apenas nós, somos as testemunhas de nossos pecados. Resta, portanto, à nossa própria consciência que sobre nós pese e castigue tanto quanto julgar dos erros que tenhamos cometido e dos males que tenhamos causado.
quinta-feira, 19 de junho de 2014
Preço
Quem joga desonestamente tem mais chances de ganhar, mas apenas jogando honestamente a vitória é verdadeira.
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